ANUBIAS - VALISNERIAS - LEMNA MINOR (LENTILHA D´ÁGUA) - ELÓDEA - RABO DE RAPOSA (Ceratophillum)
Ao meu ver um desafio enorme sempre foi e será a inclusão de plantas em um aquário de Ciclídeos Africanos especialmente se nesse aquário estiverem ciclídeos do lago Malawi. Os ciclídeos geralmente interagem bastante com o substrato e com os demais meios abióticos do ecossistema, o que significa que dificilmente uma planta teria condições de se estabelecer em um ambiente em constante transformação.
As experiências que tive com plantas em aquários de Ciclídeos Africanos nunca foram muito satisfatórias, até que alguns resultados foram bons a curto prazo, mas com o tempo…
Em minhas pesquisas sobre o assunto pela internet encontrei este artigo cujo autor permite sua reprodução, foi o mais objetivo e sincero que li até esse momento. Assim compartilho com você leitor.
Plantas aquáticas nos aquários de Ciclídeos Africanos
Com a crescente popularização dos aquários plantados, os aquaristas que gostam de plantas e possuem ciclídeos africanos do chamado vale do Rift, dos lagos Malawi, Tanganyika e Victoria sempre se perguntam "como seria um aquário plantado de ciclídeos africanos?".
Primeiramente, é errado dizer que um aquário de ciclídeos africanos não pode ter plantas. Não é bem assim. Existe uma dificuldade e mais que isso uma incompatibilidade de uma grande quantidade de plantas usadas no hobby com os aquários de ciclídeos africanos, mas é possível ter algumas espécies de plantas junto com os seus CA's.
No lago Malawi, por exemplo, existem várias regiões diferentes dentro do lago, com habitats diferentes e com espécies diferentes em cada um desses locais. Em algumas dessas áreas, realmente não há o predomínio de plantas, mas em outras partes como perto das margens, existe sim uma vegetação. Este artigo descreve bem os habitats do lago e faz referência a algumas espécies, embora algumas delas não sejam de uso popular no hobby, mas plantas como as Vallisnerias são facilmente encontradas em qualquer loja de aquarismo.
Compatibilizando suas plantas com o biotopo e as espécies
O que torna os aquários de ciclídeos africanos de certa forma especiais em seus cuidados é também de certa forma o que impede o bom desenvolvimento de plantas neles. Vejamos:
Substrato:
Algumas espécies de ciclídeos africanos costumam ter o hábito de escavar o substrato, para fazerem suas tocas para desova ou ritual de acasalamento. Por causa disso, não podemos por exemplo fazer uso de camadas de substratos férteis, pois a escavação iria mover parte desta camada fértil para a coluna d'água, e o problema seriam as algas. Fora que o próprio ato de escavação iria fatalmente arrancar várias plantas, requerendo um replantio frequente e ao arrancar as plantas elas ficarão danificadas.
O substrato mais recomendado para aquários de ciclídeos africanos é algum tipo de areia – seja calcita, aragonita ou mesmo areia de rio. Quando usamos um substrato de granulometria mais alta ou mesmo cascalho de rio comum num aquário de ciclídeos africanos, criam-se espaços entre esses grãos maiores e pedregulhos, que facilita a retenção de sujeira nesses locais, o que faz com que a amônia total suba, e a amônia não-ionizada (NH3-, íon amônia) se torna bem mais tóxica em níveis de pH mais altos como os presentes nos aquários de ciclídeos africanos, como mostra a seguinte tabela
Como usar a tabela acima?
Para calcular a quantidade de amônia não-ionizada presente numa determinada amostra, o Nitrogênio Amoniacal Total (NAT) deve ser multplicado pelo fator selecionado de acordo à tabela, utilizando-se para isso o pH e a temperatura da água encontrados por teste específico (pH) e leitura (temperatura; termômetro). Para ter maior precisão, deve-se medir previamente esses valores, para depois fazer o teste de amônia. Ou seja, para ser acurado, o teste de amônia deve ter valores de temperatura e pH iguais tanto em sua amostra de água como na água do aquário de onde foram retiradas as amostras.
Toxidez e concentrações de ANI:
Para exemplifcar, apresentamos um modelo teórico de como realizar a determinação da fração tóxica de amônia tóxica (ANI):
1) A temperatura da água verificada está em 24°C;
2) O teste de pH da água deu 8.0;
3) Cruzando-se na tabela os valores obtidos de temperatura e pH encontrados, encontra-se o fator de multiplicação a ser utilizado: 0.0502;
4) Faz-se então o teste de amônia, onde se encontra uma concentração de NAT de 1.0 ppm;
5) Multiplica-se, então, esse valor do NAT pelo fator encontrado na tabela: 1,0 X 0.0502 = 0.0502 ANI.
Interpretação do Resultado:
A amônia tóxica presente (ANI) é de 0.0502 ppm. Ou seja, está praticamente no limite da toxidade, já causando algum estresse aos peixes.
Continuando...
Por causa da dificuldade em se usar uma camada fértil, a fertilização deve ser feita com fertilizantes líquidos, e praticamente só as plantas que teriam capacidade de absorver os nutrientes dessa forma seriam as que dariam mais certo. Alimentação: Algumas espécies de CA's são estritamente herbívoras, e irão devorar suas plantas com prazer. Uma tentativa de se evitar isso seria manter os peixes bem alimentados, mas ainda assim o risco é muito grande. Plantas mais sensíveis são atacadas vorazmente. Plantas com folhas mais grossas como as anubias costumam resistir mais e são deixadas de lado, mas folhas menores e brotos podem ser comidos.
Parâmetros da água:
Os lagos do vale do Rift possuem uma condição toda especial em relação aos parâmetros químicos de suas águas. A água desses lagos tem uma dureza alta e o pH é bastante elevado, especialmente no caso do lago Tanganyika onde a média de pH é em torno de 8,4. Por causa disso, plantas que são de ambientes de água neutra ou ácida muito provavelmente não se adaptarão. Plantas de origem amazônica, por exemplo. Além de não fazerem parte do biotopo do lago, estas plantas são de águas totalmente diferentes e provavelmente não se desenvolverão numa água tão diferente de seu habitat original.
Iluminação:
Normalmente um aquário de CA's não requer iluminação, que é usada para efeitos puramente estéticos. Se você está disposto a tentar criar algumas plantas, teria de ou optar por plantas que não requerem iluminação forte ou então ter gastos desnecessários (já que não é preciso esse sistema de iluminação forte em um aqua de CA's) e montar um sistema de iluminação exclusivo para elas – o que ainda assim poderia não funcionar por causa dos outros motivos citados acima.
Algumas espécies que podem se desenvolver bem:
Valisnérias:
As valisnérias costumam ser muito usadas, embora o sucesso como em todas as outras espécies não pode ser dado como 100% garantido, principalmente no quesito "alimentação".
Anubias:
Anubias costumam tolerar o ambiente alcalino e como não precisam de iluminação, tendem a se desenvolver bem. (N.A.: nunca obtive sucesso com elas! Já num aquário "normal", desenvolvem-se normalmente)
"Rabo de raposa" (Ceratophillum demersum):
Por serem plantas resistentes, também podem funcionar. Essas podem ficar enterradas no substrato sem perigo de serem danificadas ao serem arrancadas, mas isso vai acontecer com frequência. É preciso paciência para ir recolocando todas no lugar, dependendo do temperamento e atividade dos seus peixes.
Elódeas (Egeria densa e Lagarosiphon major)
As elódeas por terem crescimento rápido e fácil e serem menos frágeis ou exigentes podem ser usadas, especialmente a Lagarosiphon major, que é inclusive chamada de "Elódea Africana", e é nativa dos grandes lagos, e essa tem melhor rendimento que a elódea "comum".
Lemna minor (Lentilha d'água)
Uma planta que ao menos no aquário do autor deste texto funcionou de forma satisfatória (embora o visual não seja muito "agradável" digamos assim) foram as "lentilhas-d'água" ou Lemna minor. Crescem muito e rápido. A desvantagem é que tomam toda a superfície do aquário rapidamente, e pode ser meio estranho esteticamente.
Esqueça: musgos, carpetes, plantas de caule muito frágil... nenhuma vai dar certo, acredite. Ou para dar certo, é bem complicado. E como tentar fazer isso?
A meu ver, a única possibilidade de ter um aquário densamente plantado com CA's é montar toda a estrutura primeiro, plantar, e esperar as plantas se desenvolverem, e só (bem) depois introduzir os peixes. Há fotos espalhadas pela internet de aquários de CA's com plantas e bem plantados, que mostram que isso pode ser possível de ser realizado. Mas é uma tarefa e tanto.
Se você desejar ter plantas em seu aquário de CA's para efeito de controle da amônia, uma boa pedida nesse caso seria tentar montar um filtro de plantas. Seria tão eficiente quanto as plantas no aquário, com a possibilidade de que alguns dos problemas citados acima seriam eliminados, e até outras espécies poderiam ser tentadas.
Esperamos que com as dicas acima você consiga obter algum sucesso no cultivo de plantas junto com os ciclídeos africanos. Desejamos boa sorte nessa tarefa que é no mínimo trabalhosa, se não quase impossível.
Referências
SIMÕES, Vladimir Xavier. In Tabela para determinar a fração/concentração de amônia tóxica presente na água. Site Aquabrasilis: http://aquabrasilis.sites.uol.com.br/text/teoria/amonia.html
Disponível em: http://www.ciclideosonline.com/artigos/plantasaquaticas.html
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